@Nefer.Artist

Na minha obra o que se pode observar são formas que representam objetos orgânicos ou inorgânicos que se repetem. Essas formas, no entanto, nunca são iguais, representando aquela matéria, naquela fração de tempo, naquela posição específica.

Dentre as formas orgânicas, podemos ver membranas, células, animais e partes vegetais como sementes, flores, folhas e frutos. As formas inorgânicas são ondas, bolhas, correntes, vento, orvalho, som e dimensões.

As obras retratam a posição instantânea da matéria e suas formas no espaço-tempo, sua existência frágil e que logo deixará de ser o que representa nesse instante, e se transformará em outra coisa, cumprindo sua função determinada no ambiente caótico do universo e no ambiente caótico representado na obra.

Dentro da filosofia budista existe um mantra que diz “a forma é o vazio, o vazio é a forma”. A aceitação da transitoriedade das coisas e da aleatoriedade presente no universo é, no meu ver, o maior grau de elevação espiritual humano.

Enquanto o estoicismo preconiza a paz de espírito através do controle interno e da aceitação racional da natureza dos eventos, "amor fati" de Nietzsche exalta a celebração de cada aspecto da vida, inclusive do sofrimento e da perda. Essa noção encontra um paralelo distante nos ensinamentos do yoga antigo e nos textos védicos, que, embora não diretamente relacionados, compartilham uma busca universal pela compreensão e aceitação profunda da existência, ressaltando a busca humana por significado e contentamento no seio da natureza do ser.

Dentro da biologia a deriva genética é o fenômeno responsável pela maior parte da evolução nas populações, e ocorre de forma caótica. Os seres não possuem tanta importância em sua individualidade mas sim a nível populacional. A individualidade é em sí um termo fluído, assim como uma onda na água.

Na genética de populações inferimos como ocorreu a evolução baseados na informação genética que é levemente diferente entre os indivíduos de uma população, comparado ao de outras populações. Aspectos como barreiras geográficas e a distribuição dos organismos no mapa ajudam nas conclusões. Por isso a representação de cada forma de modo diferenciado e em posições e locais variados é importante na minha obra.

Vários indivíduos geneticamente iguais podem ser gerados de um mesmo DNA mas a epigenética e o meio aonde vivem sempre os fará ser levemente distintos. Uma estrela do mar pode ser cortada ao meio e se transformar em duas. Quanto menos especializadas são as células de um ser vivo, maior a capacidade de regeneração de um organismo. As formas que eu apresento nos meus trabalhos são arquétipos platônicos, que sofrem influência da pop art, com formas geométricas simples, e opt art, com embaralho visuais.